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Capítulos Diário de Bordo
 

1ª Açores -> Cabo Verde

2ª Cabo Verde -> Brasil

3ª Brasil ->Uruguai - Argentina

4ª Argentina - Cabo Horn (Chile)

5ª Cabo Horn - Costa Oeste Chile

6ª Puerto Montt (Chile) - Ilha de Páscoa

7ª Ilha Páscoa - Polinésia - Samoa - Fiji - Vanuatu - Espiritu Santo - Austrália

8ª Austrália - Timor Leste - Indonésia

9ª Indonésia - África Sul

10ª África do Sul - Brasil

11ª Brasil - Açores

 
Hemingway ancorado no mítico porto da Horta
     
     

DOS OCEANOS AO MAR DOS AÇORES

A PESCA DO ATUM


Nas minhas andanças pelo Mundo tive a oportunidade de conhecer e contactar com pescadores e respectivas organizações, bem como em alguns locais entidades relacionadas com o mar ou com as pescas. Conheci realidades bem diferentes, mas todas com um denominador comum: o MAR.

Em grandes países ou em pequenas ilhas, fruto das minhas observações ou conversas, percebi que neste Mundo todos nós temos problemas em comum. Nos tempos que correm a humanidade debate-se com sérios problemas relacionados com os bilhões de estomagos que há para alimentar. Os recursos marinhos que em tempos não muito longínquos eram considerados inesgotáveis, depressa atingiram ponto de rotura sendo certo que muitas espécies, outrora abundantes, estão efectivamente ameaçadas de extinção.

Aquando da minha primeira viagem a volta do mundo (2000-2002) constactei, com alguma apreensão, que as capturas que efectuei com as duas linhas que à poupa do Hemingway sempre levei de corrico foram fracas, pese embora o facto de no grande Pacífico, mais propriamente perto das Ilhas Galapagos, e mais tarde de Vanuatu, ter encontrado quantidades de tunídeos, no primeiro caso atum voador e no segundo pesquei mesmo um bonito com 14 Kg. Todavia, refiro que no Atlântico, Pacífico e Indico uma das espécies que mais pesquei foi o doirado e no seu conjunto (doirado, voador, albacora, bonito e rabilo) foram 174 exemplares.

Passados sete anos, novamente navegando a volta do mundo, para meu espanto e tristeza sendo eu o mesmo pescador e utilizando os mesmos aparelhos, nem sequer a metade pesquei! Os poucos bonitos e albacoras que apanhei foram de tamanho pequeno e à excepção dos doirados, conforme já referi, em pequeno número. Diferentemente da primeira viagem, para que se tenha uma melhor percepção da gravidade da trágica situação de sobreexploração em que se encontram os Oceanos, particularmente o Atlântico, as frotas espanhola, francesa e americana, isto para referir as mais importantes, encontram-se a fainar no Indico Ocidental, precisamente na área de actuação dos piratas Somalis. É óbvio que se houvesse peixe noutras paragens os barcos de pesca não estariam sujeitos aos ataques dos piratas como tem acontecido.

Deixarei para outra oportunidade algumas considerações relacionadas com os registos das temperaturas da água e do ar, pese embora o facto destes poderem de algum modo influir na existência ou na abundância das já referidas espécies.

As Ilhas Açorianas situam-se praticamente no meio do Atlântico Norte, banhadas pela corrente quente do Golfo que ano após ano traz as mais variadas espécies de peixes, entre os quais os tunídeos, chernes juvenis, bem como nutrientes. A partir de Março é frequente o avistamento de “achados”, que quase sempre “transportam” ou servem de abrigo/refúgio ao chicharro, aos tais chernes juvenis, chopas, doirados, bonitos, albacora, voador, etc. Uns irão ficar por estas Ilhas ou nos montes submarinos, vulgo “baixos”, contribuindo assim para o repovoamento dos mesmos, outros seguirão em suas migrações mar adentro, levados ou não pela corrente.

A pesca nos Açores pode e deve ser dividida em duas grandes categorias: a de fundo e a de superfície, mais conhecida como pesca do atum. As embarcações que ao longo dos anos têm sido utilizadas nestas duas diferentes categorias (que por vezes e para algumas espécies podem ser as mesmas) no caso da pesca de fundo variam entre os 4 ou 5 metros das “boca aberta”, que em algumas Ilhas podem ir até os 14 metros, operando com tripulações entre 1 ou 2 até os 12 companheiros (as) e as maiores “cabinadas” entre mais ou menos 8 e 30 metros, com tripulações de 2 até mais ou menos 20 companheiros (as), isto sem contar com aqueles (as) que ficam em terra na dura tarefa de preparação dos aparelhos. Relativamente à pesca do atum, que por vezes também é efectuada em embarcações de boca aberta, quando os cardumes se encontram nas proximidades das Ilhas, é feita pelas “traineiras” que a partir dos anos 50 foram construídas por particulares ou por sociedades que se constituíram tendo em conta o pensamento da época: quase todos queriam ser “donos” de uma traineira do atum. Também é mais ou menos nesta época que surgem várias fábricas de conservas de atum que laboravam dia e noite e nos anos (aureos) e meses de maior abundância recusavam as “barcadas” de albacora, bonito ou até rabilos que as traineiras por vezes traziam. Com tanta abundância todas faliram!

A pesca do atum nos Açores está sempre dependente da passagem dos cardumes, que no seu ciclo de vida fazem migrações passando mais ou menos perto das Ilhas. A nossa frota (a qual irei referir-me oportunamente) opera sempre relativamente próximo de terra, não se aventurando, como no caso espanhol, a outras paragens. Assim, há anos de relativa abundância e outros de extrema penúria. Por seu lado as fábricas, super dimensionadas para nossa frota, viram-se obrigadas a importar atum congelado e sobreviverem de subsídio-dependência.

As traineiras que na década de 80 foram construídas pelo Governo Regional e entregues para exploração a alguns mestres pescadores (frota azul), bem como as que foram construídas por armadores subsidiadas pela Região e mais tarde com apoio da União Europeia todas tinham a mesma finalidade: pescar em quantidade e não em qualidade, insistindo-se assim numa prática cujos resultados não eram de modo algum favoráveis aos armadores, aos pescadores e muito menos à indústria conserveira. Segundo sabemos quase todos os mestres armadores e restantes armadores do atum, mesmo com embarcações altamente subsidiadas, não resistiram as safras de anos magros, de baixissimas capturas. As traineiras que haviam sido construídas com boas madeiras ou mesmo em fibra de vidro ou aço foram abatidas ou vendidas para fora da Região, voltando a ser subsidiadas agora no abate! Ao invés de apoiar-se o reequipamento, transformação ou melhoria das embarcações, optou-se pela via mais simples mas também a mais lesiva dos interesses da nossa Região – o ABATE.

As embarcações de pesca do atum, as que temos e as que teremos, têm que estar cada vez mais viradas para a pesca de qualidade e não de quantidade. Por outro lado as tripulações terão que ser cada vez mais constituídas por profissionais devidamente qualificados e preparados para as novas exigências.

Os Açores podem e devem tirar partido da situação geográfica de que desfrutam entre grandes mercados, de um lado o americano do outro o europeu e mais além o asiático. Porém, estes são mercados exigentes, que pagam bem por peixe de qualidade. Os grandes tunídeos, albacora e rabilos que em menor ou maior quantidade durante todo ano vivem ou passam em suas migrações pelas nossas ilhas e imediações são uma importante mais valia completamente desaproveitada que estou certo quando devidamente explorada poderá viabilizar a frota da pesca do atum dos Açores, constituindo também uma importante contribuição para a diversificação das nossas pescas com valor bastante rentável.

Todavia, os Açores estão fortemente limitados neste tipo de pesca, uma vez que para o rabilo a quota é zero, ou seja, não podemos pescá-lo e as espécies albacora e espadarte também estão sujeitas aos limites de captura. Foram estas as determinações da última reunião da Comissão Internacional para a Conservação de Atuns do Atlântico – CICAA, que teve lugar em Novembro na cidade de Recife, Brasil e onde os Açores estiveram representados. Tristes e miseráveis resultados para os pescadores Açorianos e para a economia destas Ilhas que pela falta de visão dos mais altos responsáveis políticos que negociaram a nossa entrada para a CEE e outros acordos, não souberam defender intransigentemente um recurso que bem podia ser nosso e não de outros que o irão explorar e como temos visto já o exploram.

Genuíno Madruga



 

 

   
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